terça-feira, 14 de setembro de 2010

INVASÕES BÁRBARAS
Vicência Cheib
Um filme que me comoveu muito foi “Invasões Bárbaras”.
Fiquei pensando sobre o que poderíamos considerar como uma invasão realmente bárbara em nossas vidas. A princípio pensei nas hipóteses ruins do termo e veio uma lista encabeçada pela morte. Em seguida pensei nas boas e, imbatível surgiu o amor...
Em um segundo momento, achei a velhice mais avassaladora que a morte porque apesar de serem ambas inevitáveis, pelo menos a morte é súbita. A velhice nos consome aos poucos, nos obriga a presenciar cada passo da decadência, não há nada mais bárbaro que isto, na minha opinião.
Passei então a encarar a morte como uma benção que interrompe a velhice interminável. Sempre desejamos viver bastante, mas, não contamos com o fato de que viver muito implica em envelhecer e aí, o horizonte já não parece mais tão ensolarado. Surgem nuvens tristes de incapacidades e limitações.
Enquanto se expande a mente, amofina o corpo. Pele, músculos e ossos definham e percebemos que os tempos são outros. Não é mais possível iniciar uma série de coisas e isto pode ser devastador. A mão não alcança, as pernas não sustentam, as costas doem.
Totalmente bárbaro!
Então chega a brisa suave e deliciosa que nos permite dormir e sonhar eternamente. Mãos alcançam o céu, pernas dão pulos mágicos, costas arqueiam como as de um bailarino em pleno vôo...
Esta me parece ser a face libertadora e não invasora da morte.

Um comentário:

Anônimo disse...

Olá,

Belíssimo texto sobre o envelhecer como drama.
Gilberto Gil fez uma canção linda sobre a diferença entre a morte e morrer, no penúltimo disco, e no último disco fez outra sobre a diferença entre a vida e viver. Talvez ele devesse escrever agora uma canção sobre a velhice e o envelhecer.

Em outro filme interessantíssimo, este sobre o apogeu do corpo, a juventude, "Os sonhadores", de Bertolucci, é possível encontrar uma frase maravilhosa sobre a velhice: "Os nossos avós são sempre mais legais que os avós dos nossos amigos. E os pais dos nossos amigos são sempre mais legais que os nossos pais."

Outro documento incrível (que eu prefira que tivesse elementos de fabulosos) sobre a velhice é o livro "A velhice", de Simone de Beavoir. A extensa pesquisa se divide em duas partes: o velho visto pela sociedade, e o velho visto por ele mesmo.
Abraço,
Renato
www.costelasocial.blogspot.com