“Natal e Ano Novo! Agora a
minha dieta vai por água abaixo.
No mês de outubro esta frase
começa a ser ouvida por todos os lados. Aqueles que cuidaram (ou não) da
alimentação durante o ano temem este período mais do que qualquer outra coisa.
Escuto os argumentos, as ponderações, os temores e penso que tudo o que
porventura tenha sido feito realmente está em risco. Entretanto, o risco não se
deve às duas ceias e às dezenas de comemorações que ocorrem nesta época. O
risco, em minha opinião, está no fato de que, se o indivíduo teme as festas é
porque ele ainda não está preparado para lidar com elas.
Se uma pessoa realmente mudou a
sua forma de se relacionar com a comida ela não precisa ter medo de festas,
feriados, confraternizações, ceias, coquetéis, churrascos. Se uma pessoa
realmente entendeu o que é se alimentar de forma moderada, não importa se está
na Praia, no Interior, na China ou na França, ela saberá o que comer e quando
parar.
É preciso entender que a atitude
pacífica com relação ao alimento deve vir de dentro pra fora, suavemente até
que se torne espontânea. Suave como um sopro ou uma brisa e não como um vento
ou uma tempestade. Aos poucos de forma que vá se fortalecendo e que seja
duradoura, que permaneça sem agredir, sem assustar, sem proibir e sem lamentar.
Suave de maneira que você mesmo nem perceba que está mudando, como quem abre
uma porta para não acordar alguém que cochila. Assim a atitude será sem
esforço, sem sacrifício, sem demandas urgentes, sem prazos, sem promessas, como
um amor maduro.
A época em que temos mais medo de
engordar é justamente aquela em que mais fazemos promessas de emagrecer.
No ano que vem, eu vou fazer
diferente...
Melhorar a alimentação e fazer
mais atividade física provavelmente estão entre as principais mudanças que
planejamos para o começo do ano. Isto talvez explique, em parte, a aflição que
se abate sobre todos nesta reta final. O ano está terminando e as promessas não
foram cumpridas. Para muitos elas não foram sequer iniciadas. Talvez o medo não
seja de engordar nas festas e sim de não ter emagrecido antes delas. As festas
representam apenas a “terceirização” da culpa: Eu emagreci sim, mas, as festas
me engordaram. Funciona como se um anjo do mal descesse do céu (ou subisse do
inferno) e tocasse a sua trombeta: Engordarás no Natal e no Ano Novo!
Todos nós sabemos que não funciona
assim, porém, é difícil entender e assimilar como é que funciona. Levamos anos
para ter o corpo que temos hoje e queremos que em alguns dias ou semanas ele
seja outro. Levamos anos para pensar da maneira como pensamos hoje e queremos
mudar esta forma de pensar da noite para o dia.
Quantas palavras, eventos, amores,
desamores, alegrias, tristezas, realizações, decepções, anseios, angústias,
expectativas e frustrações foram necessárias para que chegássemos ao que somos
hoje? Para que comêssemos como comemos hoje?
Na receita do nosso comportamento
alimentar e do nosso corpo os ingredientes são múltiplos e de uma hora para a
outra queremos refazer esta delicada receita usando um só ingrediente e de
preferência que ele seja mágico. Não damos o tempo que o corpo e o espírito
precisam para preparar os ingredientes, descansar a massa, cozinhar o recheio,
montar o prato, assar, deixar esfriar, separar as porções para finalmente
servir uma pessoa renovada. Este processo leva tempo e o produto final importa
menos do que o preparo lento e delicado.”
Vic Cheib