domingo, 10 de outubro de 2010

Comer, Rezar, Amar e Voltar para a Vida Real
(Vicência Cheib)
Hoje fui assistir “Comer Rezar Amar”. Os atores principais reinam absolutos em sua beleza e charme, tão absolutos que não consigo me lembrar o nome dos personagens que compõem o casal, para mim eles são Júlia e Javier! Ela está deslumbrante com aquele seu sorriso lindo, fácil e sincero, ele está a representação perfeita do macho-alfa.
Hoje finalmente entendi porque o livro que deu origem à película vendeu mais de 4 milhões de exemplares em todo o mundo: A autora personifica o sonho de pelo menos metade das leitoras que estão entre 30 e 50 anos de idade. Ela consegue fazer muito mais do que mergulhar profundamente nos três verbos que dão nome ao best seller (o que já seria no mínimo impensável para a maioria das mulheres que habitam a vida real). Elizabeth (uma pesquisa rápida no google me esclareceu o seu nome) se divorcia de um marido com o qual não consegue dialogar (novidade para as mulheres que tem ou já tiveram um companheiro), termina um romance com um homem jovem, ator, sensível e sem grana (outra novidade), tira férias de um ano (cortem os pulsos, ela tem dinheiro e coragem para isto) e até esta parte da história, as coisas boas mesmo nem tinham começado (como assim?).
Neste ponto da saga ela parte para a Itália onde não só aprende o idoma e faz amigos maravilhosos (quem aprende um nova língua e faz amigos maravilhosos após os 30 anos?) como também se entope de vinho, macarrão e pizza, faz apologia contra a culpa feminina de comer e, pasmem, não engorda e compra uma calça jeans de cós baixo! (neste momento sinto que o cinema é tomado por uma onda de indignação e inveja que se espalha pelas cabeças femininas e ouço 2 ou 3 maridos roncando sonoramente).
Com as maças do rosto visivelmente mais coradas é hora de ir para um ashram na Índia onde poderá rezar, meditar, perdoar e renovar as forças. Durante a minha vida tive muitas experiências religiosas e sempre observei que toda mulher tem dentro de si, em algum lugar, uma carola rezadeira. Somos muito mais apegadas à religião do que os homens (se você está se perguntando se isto foi comprovado cientificamente, a resposta é não, se o grande público se importasse com comprovação científica, ração humana não venderia tanto).
Incrivelmente mais magra e serena é hora de ir em busca de amor, e porque não de sexo, nas praias paradisíacas de Bali. Neste lugar místico, ensolarado e azul, nossa heroína encontra um homem bonito, educado, sensível, amoroso, atencioso, rico, bem vestido e perdidamente carente que se apaixona por ela e a pede em casamento (meninas estes homens estão em Bali e não no bar da esquina).
O mais incrível de tudo, é que esta história não é uma ficção.
O tiro de misericórdia é dado quando o filme termina com uma voz em off dizendo que todas podem alcançar este nirvana, basta ir atrás dos sonhos onde quer que eles estejam (neste instante a mulher sentada atrás de mim está planejando a sua própria virada quando é acordada do sonho pelo companheiro sonolento que quer saber se o filme já acabou).
As luzes se acendem, todos se levantam e sinto um leve conformismo no ar (como já dizia Nelson Rodrigues: “A vida como ela é!” ).
Com esta história, Elizabeth se torna o sonho de consumo de pelo menos 4 milhões de mulheres em todo o mundo (simples, não?).