segunda-feira, 7 de setembro de 2009

A Dor da Descoberta

“Como é sua dor de cabeça?”
Mais de uma vez, me surpreendi com a incapacidade momentânea de responder à pergunta do meu homeopata. Xi, como é a minha dor de cabeça? Com um pouco de esforço, lembro que a luz incomoda muito, barulho não. Que tenho vontade de segurar a cabeça com a mão, como se ela precisasse de apoio extra. De apertar os olhos, as têmporas, a nuca. “Dói mais de um lado?” Isso, dói mais de um lado!
A cabeça é fácil de perceber e delimitar. E quando dói a alma, como fazer? Como identificar e descrever uma dor que vem não sei de onde, mora em não sei que parte, aperta não sei o que?
Quando eu era criança, ouvia falar dessas angústias adultas e achava tudo bobagem. Como assim, não saber o que quer, não saber onde dói? Eu sabia muito bem o que queria – que o recreio chegasse logo, que a quadra estivesse livre, que a bola não estivesse murcha. Queria aprender a tocar piano, que a mãe da minha amiga a deixasse sair na rua para brincar comigo, que meu irmão não comesse o pedaço de chocolate que eu tinha guardado para mais tarde. Desejos eram simples (até onde eu era capaz de perceber....), dores também.
Mas lá da infância ficam dores e angústias escondidas em algum canto da alma (ou da mente, espírito, coração, escolha o nome). Talvez porque fossem complexas demais para processar com nossos instrumentos simples, resistem e ficam alojadas por muitos anos. Quando dão as caras, já não as reconhecemos e precisamos de alguém que nos diga: “Essa dor? Ah, essa dor veio dali...” A gente pensa que sabe tudo o que quer, tudo o que sente. Se soubesse, creio que os sonhos não seriam tão cifrados, cheios de símbolos e códigos complicados.
Essa tem sido minha experiência na terapia – perceber e entender o que eu guardei sem saber. Assim como um massagista habilidoso, o terapeuta aperta o lugar exato e faz doer um ponto que eu nem sabia que existia. Às vezes eu resmungo, às vezes choro de soluçar – mas é uma dor boa, que cura. Quem já fez uma bela massagem sabe como é.
E essa é a dor que eu desejo para todo mundo. A dor da descoberta que elimina a tensão, relaxa, reconcilia a gente com a gente mesmo, ensina a lidar melhor com os problemas, pequenos ou grandes, da vida adulta. Cada um terá sua própria maneira de se investigar, mas, se chegar a um estágio em que já não é possível continuar sozinho, peça ajuda sem receio: assim como aquele lugar nas costas só pode ser alcançado pelas mãos de outra pessoa, assim como o médico pode entender as razões da sua dor de cabeça e ir além da receita de analgésico, tem coisas que só um terapeuta é capaz de fazer por você. Ou melhor, junto com você. (Soninha Francine)