segunda-feira, 2 de janeiro de 2017

Solte os cadarços

Livre-se dos velhos argumentos. Esta é a hashtag que uso em minhas postagens no instagram. Essa frase para mim soa como uma catarse, um grito de liberdade. Apesar de cultivada no contexto do atendimento clínico nutricional, sinto sua força em qualquer direção para a qual me viro. Ela faz uníssono com o título do meu blog: Tem muita coisa no mundo. Juntos, a frase e o título sugerem que olhemos a vida por outros ângulos, com outros olhares, com outros sentidos. Diariamente sou convocada a isso ao mergulhar nas rotinas alheias e tentar encontrar nelas, outras maneiras de fazer o que tem sido exaustivamente feito. As pessoas que procuram pelo meu trabalho têm dificuldades com algo que é da ordem da sobrevivência: comer. Esperam que nessa nova porta aberta possam encontrar uma ou mais formas de refazer a incessante e vital tarefa de consumir alimentos de maneira que estes lhes tragam prazer, saúde, bem estar, leveza, disposição, dentre tantas outras coisas. Quando uma pessoa me pergunta se seu caso tem solução, eu faço uma busca mental de tudo que já estudei, presenciei, vi e vivi e penso: tem muita coisa no mundo, se você achar que não tem solução, é porque ainda conhece pouco. Se você não conhece, não quer dizer que não existe. Então começo uma busca minuciosa para encontrar junto com aquele sujeito os questionamentos e respostas apropriadas e viáveis para ele. Nessa busca existem alguns obstáculos muito difíceis de transpor: os velhos argumentos. Quem são eles? São antigas parcerias que vão sendo construídas aos poucos, desde a mais tenra idade, como pequenas colunas de sustentação, em cada vez que a vida pede coragem, quando o fardo fica pesado demais, nos momentos de medo, angústia e solidão, nas perdas, nas faltas, nas ausências, nas chegadas e nas partidas. A todo o momento, uma nova coluna se ergue e você se sente pelo menos momentaneamente mais forte e mais capaz. Então, sem perceber, você forma uma rede que tem a sua força testada e revigorada diariamente sempre que chuviscos, chuvas ou tempestades se aproximam. Sendo assim, mexer com esses velhos parceiros exige cautela e paciência. Ficar sem eles é como pular em um precipício sem saber o que há lá embaixo. Com muita dificuldade às vezes conseguimos dar um salto aqui e acolá, porém, se o vento fica um pouco mais forte, corremos assustados para o colo da nossa teia. Lá tudo está explicado, tudo faz sentido. Lá sabemos como tudo começa e acaba, ou pelo menos temos esta ilusão. Porém, os velhos argumentos são ao mesmo tempo sustentação e prisão, pois, nos dão tanto apoio e validação que nos impedem de tentar fazer de outro modo. Do alto de sua antiguidade eles sempre sinalizam que é perda de tempo tentar algo novo, afinal de contas, isso não vai durar, e nós acabamos vencidos e embolorados pelo poder que eles exercem sobre nós. O que não sabemos, ou não queremos saber, é que esses aparentemente fortes argumentos só têm força porque foram construídos por nós mesmos e, sendo assim, têm o molde perfeito dos nossos anseios. Vistos de fora, muito aquém de fortes colunas, eles se assemelham a frágeis linhas com frouxos nós que um simples toque seria capaz de desfazer. Velhos argumentos são como aqueles vidros que de dentro pra fora você vê tudo ao seu redor e tudo faz sentido, mas de fora pra dentro quem olha só vê uma janela fosca e sem brilho. Esta propriedade de visão unilateral faz com que pareçam especiais, nos sentimos protegidos por eles, porém, basta que uma pedra seja jogada e eles vão quebrar como um vidro qualquer. Assim são nossas teias de argumentos. Quando queremos um outro peso, relacionamento, trabalho ou desempenho, é preciso construir outras teias, redes, explicações e motivos. Precisamos olhar por outros ângulos, conhecer outras coisas, desenvolver outras habilidades, exercer outros poderes. Necessitamos mexer dentro, fora, ao redor, em cima, embaixo, entre. Quando a mudança começa, ela nunca se concentra apenas em um lugar, ela vai se desdobrando em tantas outras pequenas mudanças até que lá na frente surgimos renascidos e reconstruídos. Basta romper a inércia e ir deixando pra trás tudo que nos explicou até então, desamarrando os cadarços e libertando os pés para escolher outros caminhos. Essa é uma tarefa árdua, porém nunca inglória. (Vicência Cheib) Boas festas, desejo que em 2017 consigamos pés bem livres para andar em novos e belos caminhos.

2 comentários:

jeni disse...
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Unknown disse...
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