segunda-feira, 1 de fevereiro de 2016

Voltar a correr: o que isso tem a ver com a sua vida?

No final de 2015 adoeci e isso me deixou 18 dias sem correr. Durante todo o tempo em que me sentia sem força e sem vontade para fazer qualquer coisa além de repousar, um pensamento teimava em me incomodar: quando poderei correr de novo? A doença tem o poder de nos colocar frente a frente com o que realmente importa nessa vida. Despidos de todas as distrações, resta apenas uma verdade: sem saúde não podemos nada. Falamos da importância da saúde o tempo todo com uma leviandade assustadora, porque, somente quando ela nos falta é que percebemos nossa impotência, nossa fragilidade, nossa pequenez. Sendo assim, lá estava eu vendo que a doença iria me afastar por alguns dias ou semanas da minha alegria diária, a corrida. Neste período a dúvida com relação a quando seria, foi sendo entremeada até ser totalmente substituída pela dúvida com relação a como seria. Eu sabia que voltaria logo, mas, eu não sabia como meu corpo se comportaria. Em janeiro de 2016 (09/01/2016) finalmente chegou o dia e fui fazer o teste para ver como seria. Após alguns minutos correndo fiz a conferência inicial, pernas ok, joelhos ok, pés ok, respiração ofegante ok, nariz escorrendo ok. Diante disso, uma felicidade enorme tomou conta de mim, o equipamento estava em condições precárias, porém, funcionando. Acelerei e cheguei a um pace de 6,0 km/minuto uma verdadeira glória para uma corrida de retorno. Quando completei 4 km comecei a sentir o glúteo médio e a banda íleo-tibial, pensei no treinador falando sobre a falta que a musculação faz no desempenho de um corredor. Aos 5 km subitamente fiquei lenta (pace 7,0 km/minuto), parecia que estava carregando uns 10 kg a mais, pensei no efeito da retenção de líquidos provocada pelos muitos medicamentos que ainda estava tomando. A partir desse momento o desânimo me deu um abraço bem forte e começou a encher a minha cabeça de frases nada animadoras: eu nunca mais vou correr como antes; vou demorar um ano para correr outra meia maratona; perdi todo o meu preparo físico; estou inchada; estou fraca; estou velha; vou sair do grupo de corrida; vou correr só mais 1 km; vou desmaiar; vou parar de correr agora. Aos 6,5 km enfim eu parei. Estava com as mãos formigando, as pernas coçando, a garganta seca, a sola do pé ardendo. Fui até o ponto de encontro do meu grupo e quando me perguntaram animadamente como tinha sido, respondi: estou arrasada, foi péssimo, não teve nada de excepcional! Surpresa geral: Como assim? Chegamos ao ponto. Esse texto todo é para dizer a vocês que em alguns momentos as coisas podem ser ruins, podem ser péssimas, podem doer, incomodar e chatear. Não precisa ser excepcional para valer à pena. Não precisa ser magnífico para nos fazer continuar. Um corredor aprende a diferença entre a largada, o percurso e a chegada. Aprende que um percurso contém várias etapas, várias largadas, várias chegadas. Um corredor aprende que não existe percurso sem obstáculos, algumas vezes subidas, buracos, chuva, sol, distância. Outras vezes roupa errada, tênis apertado ou largo, falta de filtro solar. Sem falar nas doenças, pensamentos vampiros (que roubam a nossa energia), falta ou excesso de treinamento. Um corredor sabe que não importa o que vem pela frente, o que importa é continuar, o que importa é ouvir o som do coração batendo e dos pés no chão. Correr é muito parecido com viver... E um verdadeiro corredor aprende logo isso: a corrida ensina a viver.