sexta-feira, 27 de agosto de 2010

De quem você gosta

Vicência Cheib
“... E pra começar, eu só vou gostar de quem gosta de mim...” Pura ilusão. Este é o refrão de uma música de Roberto e Erasmo Carlos e poderia ser também o refrão de muitas relações. Uns, em maior intensidade, outros em menor, todos já experimentaram o sabor amargo de gostar, desejar e admirar alguém que não retribui a estes sentimentos.
Muitas vezes, o motivo do encantamento é justamente a falta de reciprocidade.
Basta alguém olhar meio torto e você já fica remexido, inquieto, insano. Em segundos, aquela pessoa se torna o foco da sua atenção. Não riu da sua piada porque é mais inteligente; não gostou da sua roupa porque é mais fashion; não aprovou sua performance porque é mais descolado. De um instante para outro aquele olhar, que muitas vezes nem foi pra você, faz com que se sinta péssimo. O cabelo resseca, a pele enruga, uma espinha realça, a risada fica alta demais, os gestos desconexos. O outro é a Bela e a Fera; está fora e ao mesmo tempo dentro de você; te acolhe e te expulsa quando quer.
Você percebe este movimento, se dá conta de que isto tudo é neurótico demais e promete que vai mudar. Mesmo suspeitando que não vai cumprir...
Sem que perceba ou permita, no dia seguinte lá está você de novo, olhar atento no outro que não te olha, esperando uma aprovação ou quem sabe, o que é mais provável, uma desaprovação. Cest la vie!